Dr. Diego Pinheiro
Médico Neurologista
CRM-SP: 165844 / RQE: 75402

Uma reportagem recente do Fantástico reacendeu o interesse de muitos pacientes e familiares sobre uma técnica que vem transformando a qualidade de vida de quem convive com a Doença de Parkinson: a cirurgia de estimulação cerebral profunda, conhecida como DBS (do inglês Deep Brain Stimulation). Para quem assistiu, foi marcante ver o paciente sair da cirurgia já apresentando melhora nos sintomas, um verdadeiro alívio para quem lida diariamente com tremores, rigidez e lentidão de movimentos.
Mas afinal, o que é essa cirurgia?
A estimulação cerebral profunda é um procedimento neurocirúrgico altamente especializado. Ele consiste na implantação de eletrodos em regiões específicas do cérebro — geralmente nos núcleos responsáveis pelo controle motor.
Esses eletrodos são conectados a uma pequena bateria (um neuroestimulador), implantada logo abaixo da clavícula, sob a pele. Através de pulsos elétricos contínuos, esse sistema é capaz de modular os circuitos neuronais alterados pelo Parkinson, proporcionando alívio de sintomas motores que já não respondem adequadamente aos medicamentos.
O procedimento é delicado, mas não é de alto risco. A cirurgia é feita com o paciente acordado, o que pode parecer assustador à primeira vista. No entanto, isso é fundamental para que a equipe médica avalie, em tempo real, a resposta do cérebro à estimulação e garanta o posicionamento mais preciso possível dos eletrodos. O conforto e a segurança do paciente são prioridades ao longo de todo o processo, e felizmente as complicações são raras.
É importante destacar que o DBS não é indicado para todos os pacientes com Parkinson.
A seleção para a cirurgia é criteriosa: leva em conta o tempo de diagnóstico, o tipo de sintomas predominantes, a resposta prévia à medicação e a ausência de outras condições neurológicas ou psiquiátricas graves. O objetivo não é a cura da doença, mas sim a conquista de uma vida com mais autonomia e dignidade, especialmente em fases em que os efeitos dos remédios se tornam instáveis ou insuficientes.
Os resultados são, em muitos casos, impressionantes. Tremores que limitavam até as tarefas mais simples do dia a dia — como escrever, segurar um copo ou se vestir — podem diminuir de forma significativa. A rigidez muscular e a lentidão dos movimentos, dois sintomas centrais do Parkinson, também costumam responder bem à estimulação. Em média, os benefícios mais expressivos duram cerca de 10 anos, podendo ser ajustados com reprogramações do dispositivo.
Para os pacientes certos, a cirurgia de DBS pode representar um divisor de águas.
Mais do que uma solução técnica, ela é uma forma concreta de devolver o controle e a esperança a quem convive com uma doença progressiva e desafiadora. Se você ou alguém próximo enfrenta o Parkinson e deseja saber se essa abordagem pode ser uma opção, converse com um neurologista especializado. Informação de qualidade e cuidado individualizado continuam sendo os primeiros passos para um caminho mais leve.