Consequências da pandemia covid-19 para pacientes com doenças metabólicas

JANAINA PETENUCI BLOG

Dra. Janaína Petenuci
Médica Endocrinologista – CRM 166420

De acordo com os especialistas, pacientes com doenças metabólicas (como diabetes, obesidade e outras mais) enfrentam desafios crescentes na pandemia de Covid-19, como consequência dos seguintes pontos:

-Bloqueio prolongado

-Esgotamento dos sistemas de saúde

-Própria doença viral

-Efeitos dos medicamentos introduzidos para o tratamento da infecção pela SARS-CoV-2. 

O acesso reduzido aos prestadores de cuidados primários e uma alta demanda para o atendimento de pacientes gravemente enfermos com Covid-19 desviam a equipe e os recursos do hospital que, consequentemente, faltam em outras áreas de atendimento. Essa situação representa um risco substancial para todos os pacientes com doenças crônicas, especialmente aqueles com doenças metabólicas crônicas.

diabetes mellitus (DM) e a idade avançada, considerados fatores de risco para a pior evolução clínica e maior letalidade por COVID-19, trazem a tona a possibilidade de uma relação do desfecho desfavorável da doença com a resistência periférica à insulina (RPI).

Não podemos esquecer que o risco elevado no paciente com DM, pode envolver um viés, já que o DM é mais prevalente na população idosa, que é mais susceptível e que apresentam frequentemente outras comorbidades, como doença cardiovascular e renal.

Tratamento dos pacientes com COVID-19 e doenças metabólicas

A dexametasona (corticosteroide usado para aliviar inflamações e tratar várias doenças) vem sendo o tratamento padrão juntamente com suplementação de oxigênio para os pacientes hospitalizados reduzindo a mortalidade em pacientes em estado crítico. O problema, é que altas doses usadas nas infecções graves pioram muito o controle glicêmico e podem desencadear complicações agudas do diabetes, como cetoacidose diabética ou estado hiperosmolar.

O aumento da mortalidade foi relatado recentemente em pacientes com COVID-19 que receberam tratamento com insulina. Essa descoberta destaca a necessidade de testes frequentes de glicose no sangue, de preferência com monitores contínuos de glicose, para detectar e evitar episódios de hipoglicemia ou hiperglicemia com risco de vida.

Além disso, foi verificado aumento na pressão arterial e edema em pacientes com diabetes que receberam dexametasona.  Embora a dexametasona seja um potente glicocorticóide sintético com muito pouco efeito mineralocorticóide, ela induz hipertensão.

Este mecanismo pode explicar a ocorrência de hipertensão e edema em pacientes com lesão renal induzida por COVID-19 ou nefropatia diabética existente, e complica ainda mais o estado respiratório dos pacientes.

Acesso aos cuidados de saúde

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 155 países reduziram ou interromperam os programas de assistência aos pacientes com doenças metabólicas crônicas, sendo que em 47 países a assistência ao diabetes foi severamente reduzida. Além disso, pacientes tem medo de contrair a doença e evitam consultas e vem trocando medicações anti-diabetes e anti-hipertensivas que foram equivocadamente relacionadas a maiores riscos de gravidade da doença pelo Covid.

O pior cenário deverá ser observado no futuro quando mais complicações crônicas do diabetes, tais como retinopatia e nefropatia, além de doenças cardiovasculares serão mais incidentes.

Cuidados agudos a pacientes com pé diabético

As feridas agudas no pé diabético são mais frequentes neste cenário de mal controle e requerem muitas vezes de internação para uso de antibióticos, cuidados cirúrgicos, imobilização e cuidados crônicos para reabilitação das feridas. No quadro atual, os cuidados vêm sendo postergados ou não aplicados e o risco de amputação aumentou em 300% em países ocidentais desenvolvidos.

Vacinação

Pacientes com diabetes e doenças metabólicas devem ser incluídos nas fases iniciais da vacinação na condição de grupos prioritários. No entanto, os programas de vacinação prioritária desses pacientes quanto à influenza e pneumonia já tem falhado em todo o mundo. Mudar o cenário é mais um grande desafio.